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Trabalho doméstico e a pandemia

O trabalho doméstico não remunerado é realizado predominantemente pelas mulheres e inclui um conjunto atividades para a manutenção das famílias nos domicílios como: limpar e organizar a casa, lavar e passar roupas, preparar alimentos, cuidar de crianças, idosos ou deficientes etc. Dados da PNAD contínua do IBGE de 2018 mostram que as mulheres ocupadas dedicam em média 18,5 horas semanais com estas atividades, enquanto as não ocupadas 23,8 horas.  Entre os homens esta carga de trabalho é bem menor, sendo 10,3 e 12 horas semanais respectivamente entre ocupados e não ocupados. São atividades pouco reconhecidas socialmente, embora essenciais para a reprodução das famílias e da sociedade. Segundo a ONU Mulheres o trabalho doméstico não remunerado representa entre 10 e 39% do PIB dos países.

Num momento de pandemia e isolamento das pessoas em seus lares, estas atividades sobrecarregam ainda mais as mulheres, sobretudo, aquelas que precisam conciliar o home-office com toda a rotina da casa. Os afazeres habituais são substituídos por uma demanda constante do acompanhamento dos filhos nas tarefas enviadas pelas escolas, preparação de alimentos e cuidados de higiene redobrados para a manutenção da saúde de todos. É oportuno, portanto, rediscutir a divisão das tarefas no lar entre os membros da família para dar condições para que todos atravessem este momento sem sobrecarga psicológica ou de trabalho.

Toda crise é um momento de reflexão e adaptação a novos contextos. Assim, pode-se imaginar dois cenários. No primeiro, esta reclusão das famílias em suas casas seria o ponto de partida para propor novos arranjos domésticos para a redistribuição destes encargos. Em outro, seria um momento em que os conflitos familiares podem se acirrar devido a pressão psicológica do confinamento, bem como pela crença de alguns homens de que o trabalho doméstico é “coisa de mulher”. Neste segundo cenário, pode-se observar um aumento da violência doméstica, o que seria muito grave, tendo em vista a saúde física e mental das mulheres brasileiras.

Sem sombras de dúvidas, a pandemia do Covid-19 trará a oportunidade de repensar os nossos modos de vida e possibilitará uma reflexão que leve a uma valorização do trabalho não remunerado realizado pelas mulheres em seus domicílios.

Angela Welters – Professora do Departamento de Economia da UFPR – Doutora em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP e Coordenadora do NESDE

Fonte da imagem: Licia Rubinstein/Agência IBGE Notícias

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